É possível simplificar o processo criativo.

A complexidade do uso da nossa criatividade nos projetos e na vida também é uma criação nossa.

Melissa Setubal
consciência criativa

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No ambiente complexo que vivemos hoje em dia, a vida parece mais exigente do que nunca sobre o que precisamos estar conscientes para conseguir minimamente criar o que desejamos ou precisamos.

Seja em qualquer projeto pessoal ou profissional, a criatividade é item essencial. Se for para um mercado concorrido ou para sobrevivência humana nessa face dessa Terra então, temos que levar nossas criações para o próximo nível de inovação!

Fui fundo demais agora?

Vamos voltar uns passos atrás…
respirar…
e lembrar que ideias podem ser complexas, mas a ação a partir delas podem sim ser simples.

Arte em nanquim preto em papel branco. Uma mancha preta no canto superior esquerdo gera traços que se assemelham a tentáculos mais grossos e mais finos e que seguem nas direções opostas do papel. Um dos tentáculos ao meio se dobra para cima no meio da página. Traços curtos disformes na horizontal ocupam 1/3 da página à direita do papel.
imagem por Mel Setubal

Simplificar é voltar de novo e de novo ao que é essencial. Os oito elementos da Consciência Criativa nos levam a ações simples a partir do que é mais desafiante e complexo no processo de criação e inovação.

autoconhecimento
inteligência relacional
coragem
senso de conexão
interdependência
intuição
verdadeira inovação

Parece ainda mais complexo? Antes de explicar o passo a passo, vou já trazer um resumo simples e direto. A chave da simplicidade no processo criativo mora dentro. São nossas emoções.

Consciência Criativa é uma maneira de ir direto na fonte da nossa in/capacidade de criar e inovar: nossa mente, onde nossas emoções são criadas e nossos comportamentos são influenciados.

Ao expandir nosso repertório emocional, observando e conhecendo o movimento que nossa mente faz criando cenários internos, muito além dos fatos e dados dos estímulos do ambiente e das pessoas acionam em nós, a gente fica com uma maior capacidade de lidar com os incômodos que sempre surgem nos processos criativos.

Não há como escapar dos bloqueios criativos, dos problemas nas relações entre as pessoas, dos desafios impostos pelas circunstâncias e pelo contexto socioeconômico, e por aí vai. Mas há como a gente ficar mais hábil para dançar junto com nossas emoções, e usá-las como aliadas da criatividade.

Simplicidade é voltar de novo e de novo ao que é essencial, e o que é essencial normalmente fica distraído pela cortina de fumaça que nossas emoções criam.

Simplicidade é a gente se lembrar que as emoções sempre nos dão pistas do que elas estão tentando disfarçar, e aprender a seguir essas pistas nas vezes que nossos processos criativos ficam difíceis, complexos, desafiantes, ou nas vezes que ficam fáceis, simples, leves.

Consciência Criativa é um cultivar a capacidade de observação deliberada da criatividade, desde a curiosidade até a realização. O caminho da curiosidade até a realização pode parecer ser só longo e tortuoso e complexo, mas ao ser observado pela perspectiva dos processos emocionais, conseguimos observar que ele também é curto e direto e simples.

Se a criatividade é uma manifestação espontânea e natural dos seres humanos, e se nossas emoções são uma manifestação gerada pela evolução da natureza para dar as melhores condições de sobrevivência de nossa espécie no meio ambiente, percebemos que seguir a curiosidade e realizar a criação é um fenômeno que acontece um monte de vezes por dia naturalmente também.

Então, simplificar o processo criativo de projetos ou aspirações complexas passa por a gente perceber o movimento de espiral que esse processo cria, em que por diversas vezes vamos passar por emoções similares a partir de gatilhos gerados por acontecimentos inéditos, mas que nos remetem inconscientemente a histórias armazenadas em nossas mentes. Simplificar, então, passa por a gente se lembrar que com frequência estamos reagindo frequentemente ao passado, e não necessariamente aos dados e fatos que estão diante de nós no presente.

É claro que situações diferentes e novas podem sim gerar sentimentos e reações similares e não conectados ao que já aconteceu antes, ou gerar outros traumas não associados ao que já vivemos antes. Mas na maior parte do tempo, se trata de um acesso automático a um repertório velho conhecido do nosso corpo-mente-espírito. E reagimos sem consciência, no lugar de agir com consciência dos nossos processos internos contínuos.

Desenho em nanquim preto e pastel oleoso em diversos tons de amarelo e verde e um tom de vermelho. Um rosto humano estilizado com olhos e nariz em traços pretos, a boca em traços pretos e preenchimento vermelho. Os cabelos encaracolados em traços pretos ocupam mais de 2/3 da página, ultrapassando por cima do rosto. Entre os cabelos, o colorido aparece.
imagem por Mel Setubal

Não tem como gerar consciência sem fazer esforço, por vezes e em algumas questões, por uma vida inteira. Mas gerar consciência é simples, é pela mera observação. Parar e observar. A si mesme, as demais pessoas, as circunstâncias, o ambiente, os padrões de comportamento dos seres e das coisas…

Partindo do princípio de exercitar a capacidade de observação, vou começar a expandir um pouquinho o que quero dizer sobre os oito itens que destaco quando estou falando de Consciência Criativa.

autoconhecimento: observar os movimentos internos emocionais e suas influências em seus comportamentos no processo criativo, e a influência dos estímulos externos nos seus movimentos internos emocionais.

inteligência relacional: observar os movimentos externos emocionais das pessoas no processo criativo e suas influências em seus próprios movimentos internos emocionais e em seus comportamentos, e consequente influência nos comportamentos das pessoas.

coragem: observar um desconforto aparecer no processo criativo e escolher agir com consciência e vulnerabilidade a partir dele.

senso de conexão: observar os movimentos de conexão e desconexão e regeneração nas nossas relações dentro do processo criativo, e isso gerar uma aspiração de aprofundamento dessas relações a partir do processo criativo a favor dele.

interdependência: observar o fato de que todos os seres e coisas estão conectados entre si e dependem de uma forma autônoma uns dos outros para existir, dentro do processo criativo e para além dele.

intuição: observar a geração de ideias e pensamentos em nossas mentes e sensações em nosso corpo no processo criativo, como um fenômeno que vai muito além da nossa consciência, do nosso controle, do nosso entendimento racional.

verdadeira inovação: observar os movimentos de criação de sentido na nossa própria vida a partir do no processo criativo, firme na intenção do benefício para o máximo de seres possível.

: simplesmente observar o mistério do processo criativo e da vida se manifestar.

Disso que se trata a Consciência Criativa. Sobre expandir e enriquecer o seu universo interior para isso reverberar no mundo exterior, e vice-versa. Criar não é só sobre o que você faz, é também sobre o que você não faz, é sobre também sobre o sentido que você cria para sua vida a partir das suas criações. É sobre o que os demais fazem, e também sobre o que eles não fazem partir do que você criou e o que essa criação fez reverberar no mundo.

Pare e se observe agora: o que este texto e tudo que estava ali logo antes de lê-lo gerou de emoções e comportamentos em você? E o que essas emoções podem ser capazes de gerar no restante do seu dia, ou até na sua vida de agora em diante? E se você compartilhasse comigo ou com alguém que conhece as emoções ou as ações que foram geradas a partir dos estímulos deste texto, qual a reverberação disso?

foto da página de um livro. Papel em tom sépia em letras pretas serifadas. Escrito — P: O que é a criatividade? R: É o relacionamento entre um ser humano e os mistérios da inspiração.
imagem por Juliana Garcia do livro A Grande Magia, de Elizabeth Gilbert.

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